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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

02/02/2012 10h35 - Atualizado em 02/02/2012 12h06

Marquinho se despede do Flu e avisa: 'Objetivo é ser comprado pelo Roma'

Prestes a embarcar rumo à Itália, apoiador revela desejo de ficar em definitivo na Europa e garante que nova concorrência no Tricolor não lhe desmotivou

Por Edgard Maciel de Sá Rio de Janeiro

Dezembro de 2009. De férias na Europa após marcar contra o Coritiba o gol salvador que livrou o Fluminense do rebaixamento no Campeonato Brasileiro, Marquinho visita Roma, capital da Itália, pela primeira vez na vida. No Vaticano, cidade-estado sede da Igreja Católica, o apoiador compra um terço que o acompanharia e lhe traria sorte desde então. Veio a temporada 2010, o título brasileiro e a afirmação no elenco Tricolor. Em três anos, passou de coadjuvante a protagonista nas Laranjeiras. E quis o destino que sua primeira experiência na Europa fosse justamente no clube da cidade em que sua carreira "começou" a decolar (veja no vídeo acima o recado de despedida do jogador para a torcida tricolor).

O empréstimo de Marquinho ao Roma-ITA, que rendeu aos cofres do Fluminense o valor de € 500 mil ($1,1 milhão), inicialmente é de apenas seis meses. Mas o pensamento do jogador é um só: convencer os dirigentes italianos a ser adquirido em definitivo após o fim do compromisso. O contrato com o Tricolor vai até dezembro de 2013 e valor do passe foi fixado em cerca de € 5 milhões (R$ 11,5 milhões). Na primeira viagem de três à Itália para resolver os últimos detalhes da negociação, cerca de 30 jornalistas aguardavam o desembarque do jogador, que precisou sair por uma porta lateral do aeroporto.

- O objetivo da minha vida a partir de agora é ser comprado pelo Roma. Vou depositar todas as minhas fichas nessa nova empreitada. Sou muito grato ao Fluminense por tudo e sei que o sentimento é recíproco. Conversei com todos no clube sobre minha saída e recebi muito apoio. Por isso sei que se tiver de voltar após o empréstimo com certeza as portas estarão abertas para mim - disse ao GLOBOESPORTE.COM mostrando um misto de alegria pelo sonho realizado e tristeza por deixar o clube que aprendeu a gostar.

marquinho fluminense roma (Foto: Edgard Maciel de Sá/Globoesporte.com)Marquinho exibe um cachecol da Roma: disposição e desejo para ser adquirido em definitivo ao fim do empréstimo de seis meses ao clube italiano (Foto: Edgard Maciel de Sá/Globoesporte.com)

Ao lado do beagle Mamf (A iniciais de seu nome, Marco Antônio de Mattos Filho), Marquinho recebeu a reportagem do GLOBOESPORTE.COM na tarde da última quarta-feira em sua casa, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Em pouco mais de uma hora de entrevista, a primeira desde que assinou recentemente o contrato com a Roma, o apoiador explicou o sentimento de deixar o Fluminense - foram 158 jogos e 18 gols - após três anos, deixou claro que seu ciclo nas Laranjeiras não chegou ao fim. Ele garantiu que a concorrência de Wagner e Thiago Neves não o desmotivou, se disse feliz com os elogios do novo treinador Luis Enrique, afirmou ter ficado surpreso com o interesse do clube e frisou que seu estilo de jogo combina bem com o futebol italiano e avisou que o pouco tempo - cerca de quatro meses - para mostrar serviço não será problema.

- Esse momento de reconhecimento era tudo o que eu queria. Agora cabe a mim aproveitar - disse Marquinho, que não possui passaporte europeu e vai ocupar a última vaga livre de estrangeiros da Roma-ITA.

Confira a íntegra da entrevista abaixo:

Foram três nas Laranjeiras. Qual o sentimento ao deixar o Fluminense?
É estranho pelo fato de ter feito muitos amigos nesse atual elenco do Fluminense, o que é muito difícil de acontecer no futebol. Tenho seguramente dez grandes amigos nas Laranjeiras. Coisa rara e vou sentir muita falta deles. Mas agradeço ao clube por tudo o que fizeram por mim. A convivência sempre foi muito legal. Tive um ciclo muito legal no Tricolor e acho que chegou a hora de procurar novos horizontes.

Seu ciclo nas Laranjeiras chegou ao fim então?
Não vejo dessa forma, porque não é interessante fechar as portas no futebol. Mas meu pensamento inicial é ficar na Itália de vez. Tanto que já até vendi minha casa no Rio. Quando acredito em alguma coisa, acredito mesmo. Não penso que vai dar errado. O objetivo da minha vida a partir de agora é ser comprado pelo Roma. Vou depositar todas as minhas fichas nessa nova empreitada. Sou muito grato ao Fluminense por tudo e sei que o sentimento é recíproco. Conversei com todos no clube sobre minha saída e recebi muito apoio. Por isso sei que se tiver de voltar após o empréstimo com certeza as portas estarão abertas para mim.

Meu pensamento inicial é ficar na Itália de vez. Tanto que já até vendi minha casa no Rio. Quando acredito em alguma coisa, acredito mesmo. Não penso que vai dar errado. O objetivo da minha vida a partir de agora é ser comprado pelo Roma. Vou depositar todas as minhas fichas nessa nova empreitada. Sou muito grato ao Fluminense e sei que o sentimento é recíproco".
Marquinho

Passou pela sua cabeça permanecer nas Laranjeiras?
No começo sim, pelo time que estava sendo montado para 2012. Os jogadores conversavam entre si e falavam que esse ano ia ser muito bom para o Fluminense. A vontade de ficar foi grande, ainda mais com a iminente contratação do Thiago Neves à época, um grande amigo que fiz no futebol. Mas como o interesse do Roma foi grande e no fundo eu também tinha esse sonho, as duas vontades acabaram se encontrando.

Em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM em outubro de 2011 você disse que pretendia "fazer história no Fluminense antes de pensar no futuro e em uma possível saída para a Europa". O que mudou em três meses?
Acho que cada jogador tem um caminho a ser traçado. Sempre tive isso em mente. Sempre sonhei em defender um grande clube europeu. Se a chance apareceu agora, é porque era para ser. Pensei nisso quando vi a proposta do Roma e achei que era a hora de sair. Agora vou apostar nisso.

A grande concorrência no meio-campo do Fluminense em 2012 lhe desmotivou? Você terminou o ano passado em alta, como titular, e dois jogadores (Wagner e Thiago Neves) foram contratados para a sua posição...
Nem um pouco. Gosto dessa competitividade. É importante para o grupo ter essa concorrência, essa sombra como chamamos. Significa que a equipe vai estar sempre em alto nível. Os jogadores acabam se cobrando mais. O Abel também sempre deixou claro que ia manter o mesmo time que terminou 2011. Logo eu começaria a temporada como titular. Os reforços teriam de brigar pela vaga como todos. Só os próprios jogadores é que poderiam mudar a cabeça do Abel com suas atuações em campo.

Viu as primeiras partidas do Fluminense em 2012? O que achou?
Acompanhei sim e até conversei com o pessoal. O planejamento do Abel e da comissão técnica foi bem feito. Se colocassem o mesmo time nas duas competições ia ser complicado. Com o rodízio ele dá oportunidade a todos os jogadores e descansa os titulares. Além de conhecer os novos reforços melhor. Acho que 2012 tem tudo para ser um grande ano para o Fluminense. Vai ser difícil bater esse time.

Do que mais vai sentir falta do Brasil?
Acho que da resenha, da conversa com os amigos do futebol. Estamos sempre juntos, saindo pra jantar, fazendo um churrasco, brincando, rindo. Vai fazer muita falta.

É frustrante sair justamente logo após a chegada de um grande amigo seu como o Thiago Neves?
Até conversamos sobre isso quando saímos para jantar outro dia. Quando ele estava no Flamengo nós já brincávamos dizendo que ele deveria vir para o Fluminense porque ia se dar bem conosco. Ele estava bem no Flamengo e queríamos enfraquecer o rival (risos). Qualquer um seria feliz de jogar ao lado de um jogador da qualidade do Thiago. Infelizmente eu não vou poder agora, mas estarei torcendo para que ele seja feliz e consiga mostrar nas Laranjeiras tudo o que sabe fazer com a bola nos pés.

Fred e Marquinho no treino do Fluminense (Foto: Jorge Wiliam / Agência O Globo)Marquinho sorri ao lado de Fred em um treinamento: "Tenho seguramente dez grandes amigos nas Laranjeiras. Coisa rara e vou sentir muita falta deles". (Foto: Jorge Wiliam / Agência O Globo)

E ele disse que escolheu o número 7 em sua homenagem...
Fiquei muito feliz quando li a declaração dele. Não poderia esperar outra coisa do Thiago Neves. É um cara humilde, de caráter, um amigo de verdade mesmo. Thiago pensa muito nos amigos. Não fica pensando em dinheiro, interesses... Espero que ele seja feliz nesse retorno ao Fluminense e possa fazer ainda mais história do que nas últimas passagens.

O tempo curto do primeiro contrato com o Roma lhe preocupa na missão de atingir o objetivo de ser comprado em definitivo?
Teoricamente são seis meses, mas na prática serão apenas quatro. Janeiro já se foi e na Europa os campeonatos terminam no começo de maio. Apesar disso, essa minha primeira ida à Itália me deixou muito à vontade em relação ao tempo do contrato. Fiquei feliz de ter conhecido pessoalmente os dirigentes e eles mesmos me tranquilizaram. O intuito deles é que eu vá para lá jogar e é isso que vou fazer. Esse momento de reconhecimento era tudo o que eu queria. Agora cabe a mim aproveitar.

O interesse do Roma lhe surpreendeu de alguma maneira?
Muito. Esses grandes clubes da Europa não vêm ao Brasil muito para analisar um jogador. Eles estudam o mesmo por um bom tempo, procuram saber como o cara é fora de campo. Levantam um dossiê mesmo. Isso passou na minha cabeça na hora que eu soube da proposta. Desde o início sabia que era para o Roma que eu tinha de ir. Sempre tive a esperança de uma proposta como essa, de um grande clube europeu, surgir. E quando ela apareceu a felicidade foi enorme. Ainda bem que deu tudo certo.

Já conhecia a Itália?
Visitei Milão e Roma em dezembro de 2009 de férias. E já tinha gostado muito de Roma por ter sido o lugar que mais andei. Rodei a cidade toda a pé e de metrô. Quando fui ao Vaticano, comprei um terço que me acompanha até hoje. E tem me dado muita sorte. Fui campeão brasileiro em 2010, me firmei no Fluminense, conheci um grande treinador que foi o Muricy Ramalho e agora realizei o sonho de defender um clube da Europa. É curioso, mas a ascensão da minha carreira começou em Roma. Só é difícil ser melhor que o Rio (risos). Mas ainda assim é uma excelente cidade. Estou ansioso para ver como será morar lá.

marquinho fluminense roma (Foto: Edgard Maciel de Sá/Globoesporte.com)Marquinho e o beagle Mamf: cachorro do meia
ficará no Brasil com outros familiares
(Foto: Edgard Maciel de Sá/Globoesporte.com)

Como foi o primeiro contato com os dirigentes do Roma?
A maioria da diretoria do Roma foi bem receptiva comigo. Depois que acertamos tudo o clima ficou melhor ainda. Curti bastante essa ansiedade. Passei três dias na Itália e dormi cinco horas (risos). Fiz exames médicos, resolvi questões burocráticas do contrato e voltei para pegar o visto de trabalho. Inicialmente marcaram minha entrevista para o dia 12 de abril! Mas conversamos com o cônsul sobre a situação e espero resolver tudo até a próxima sexta-feira. Já quero acompanhar de perto o jogo do próximo domingo contra a Internazionale de Milão.

Técnico Luis Enrique elogiou sua contratação...
Li essa notícia na internet. Sempre acompanhei a carreira do Luis Enrique no Barcelona e na seleção da Espanha. Não sabia que ele era o treinador. Quando soube fiquei mais feliz ainda. É um cara que entende de futebol. Ser elogiado por ele só me motiva ainda mais. Não nos conhecemos na minha primeira ida à Itália por causa dos compromissos. Eu com os exames e ele com as partidas. Ainda nem o vi e já recebi elogios. Bom demais. Espero retribuir em campo.

Ter um treinador que fala espanhol, uma língua parecida com o português, vai ser importante para a sua adaptação?
Nesse pouco tempo que fiquei com os dirigentes já consegui me virar bem. É claro que não entendia tudo, mas boa parte eu compreendia. Eles ainda faziam questão de explicar tudo falando devagar. Mas com o Luis Enrique falando espanhol vai ser ainda mais tranquilo. Não que eu saiba falar italiano. Vou até fazer umas aulas porque não dá para ficar andando com um tradutor sempre, né? Mas essa parte da comunicação não me preocupa tanto. Sei o básico, como oi, tchau, pedir as coisas, chamar as pessoas... e alguns palavrões (risos). O clima também não vai ser problema. Sou acostumado por ter nascido no Sul. Desacostumei-me um pouco nesses três anos no Rio, que não tem inverno. Quando fui a Roma agora peguei dois graus, mas foi tranquilo.

Ele era treinador do Barcelona B e está tentando implementar o estilo Barça no Roma. Como vê essa situação?
O diretor de futebol Walter Sabatini me explicou isso. Disse que foi até o Barcelona B buscar o Luis Enrique, um treinador que já trabalhou com o Guardiola no Barcelona. Eles querem implementar o mesmo estilo de jogo e acho que pode dar certo. Esse, aliás, é o futuro do futebol. Ficar com a posse da bola facilita para qualquer time. É um estilo diferente do futebol italiano e tem tudo para fazer sucesso no país.

O que espera da relação com o Totti, o grande ídolo da equipe? Dizem que o cara é difícil de se lidar..
Os diretores me falaram o contrário, que ele é um cara consagrado, mas de fácil convivência. Está há tanto tempo na Roma que é quase o dono do time mesmo, mas é decente, tem bom caráter... Acho que vai ser tranquilo.

Top 5 de Marquinho no Flu

Gol inesquecível: Contra o Coritiba, em 2009
Melhor vitória: Fluminense 4 x 2 Argentinos Jrs, em 2011
Pior derrota: Fluminense 1 x 2 América-MG, em 2011
Maior alegria: ter sido campeão brasileiro em 2010
Maior tristeza: ficar fora da reta final do Brasileirão 2010 com uma fratura no braço

Já entrou em contato com o Thiago Silva?
Ainda não, mas vou ligar pra ele. Nossas esposas são amigas e esse contato pode ajudar muito. Os brasileiros que já estão por lá conhecem o caminho. Já peguei o telefone também do Fábio Simplício. Com o Juan eu cheguei a conversar no fim de 2011, mas ainda não existia o interesse do Roma.

Já acompanhava o futebol italiano? Acha que encaixa com seu estilo de jogo?
Assistia pela TV pelos amigos e por gostar de futebol europeu. A Itália sempre me atraiu como a Espanha. Acredito que meu estilo de jogo vai se encaixar bem por lá. Vendo os jogos me identifico com o jogo deles, mais físico, de força, pegado como a Libertadores. Acho que vai dar certo.

Quando acha que terá condições de estrear na Itália?
O tipo de treinamento lá é bem diferente. Fiz meia pré-temporada com o Fluminense e agora estou treinando com um personal trainer na praia e na academia para manter a forma. Mas se der tudo certo, e eu conseguir ir para a Itália em definitivo na próxima sexta-feira, acho que em uma semana já terei condições de jogo. Ai vai depender do treinador. Pelo que me passaram já estou quase regularizado. Só falta mesmo o visto.

A Itália é conhecida internacionalmente pela moda e alta costura. Você se vê nesse mundo? Considera-se vaidoso?
Não sou um cara vaidoso para essa questão de roupas. Tenho um estilo mais tranquilo, chinelo e bermuda mesmo (risos). Mas lá todos dizem que é preciso se vestir bem, que eu vou mudar minha cabeça... Acho que o frio e a convivência com os italianos vai me ajudar na adaptação. Vou amadurecer muito culturalmente também. Já conheci alguns lugares do país e espero conhecer outros mais. Sem falar em outros lugares da Europa, já que lá é tudo perto.

marquinho fluminense roma (Foto: Edgard Maciel de Sá/Globoesporte.com)Fissurado em carros, Marquinho apresenta sua última aquisição, um fusca 1978: "Comprei ele em dezembro, em Passo Fundo-RS, minha cidade natal. Foi de carreta até São Paulo e de lá para o Rio eu mesmo vim dirigindo. Agora só ando com ele". (Foto: Edgard Maciel de Sá/Globoesporte.com)

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